19 de jul. de 2010

Deus com as costas pesadas

           Sempre que ouço falar sobre a criação das primeiras religiões no mundo, surgem falas sobre a tentativa de explicar fenômenos da natureza através de seres abstratos, os deuses. Mas me pergunto se a criação das religiões não está enraizada muito mais profundamente na mente humana, num solo que é fertil desde a época das primeiras religiões até os tempos modernos: a negação da responsabilidade.
           Posso estar enganado, talvez a negação da responsabilidade que vemos na sociedade de hoje em dia talvez esteja relacionada com toda uma cultura secular cristã, mas posso estar certo e a cultura secular cristã ter sido fruto dessa negação de responsabilidade. Para entender melhor o que seria essa "negação de responsabilidade" que na verdade é um conceito simples, vou começa pelo lado sombrio disso, quando as pessoas se vêm em uma situação complicada, hoje por um pequeno erro colocam todos os planos feitos durante semanas a perder, ou perdem entes queridos para a roda do destino, para a morte imutável. Um dos primeiros sentimentos que toma um ser humano ao sofrer grandes perdas é a raiva, estão enfurecidos por terem se dado mal, "alguém tem que ter a culpa!", não pensam com essas palavras, mas é o modelo do pensamento que passa. Talvez primeiramente culpam as pessoas próximas, que poderiam ter avisado que algo errado iria acontecer, que poderiam ter aconselhado para que não acontecesse (estou falando de forma genérica) ou pudessem ter tido - na visão daquele que nega sua responsabilidade na situação - um poder direto de ter impedido que a tal coisa ruim acontecesse. Junto a esse primeiro sentimento de raiva, vem então o grande Deus, ele controla o destino de todos, desde o topo dos céus até o chão que nós pisamos, logo ele nos controla também, não é? As idéias de livre arbítrio desaparecem totalmente da mente de uma pessoa irritada com Deus, Deus é culpado pelas desgraças em sua vida, para elas isso é fato, estão negando a própria responsabilidade na situação, fingem que não tem culpa no que aconteceu de errado...com elas mesmas! No íntimo sabem que são culpadas, mas a religião lhes ajuda a criar uma espécie de amortecedor, para que a culpa não perfure tanto seu coração. Porém ainda há a segunda fase, o segundo sentimento que passa pela mente de um ser humano após as coisas darem errado, primeiramente foi a raiva, agora a raiva se torna tristeza, o coração enfurecido agora se concentra nos olhos lacrimosos. Na tristeza, aqueles que antes lançaram sua raiva contra Deus vão se desviar ainda mais do caminho correto que deveriam seguir para observar a própria culpa e descobrir onde acertar, dessa vez vão perguntar para sí mesmas: "O que eu fiz para Deus para ele me punir assim?", a pessoa irá pensar em situações totalmente diferentes daquela em que cometeu o erro, talvez acabe se concentrando em outros erros antigos que nem mesmo deviam ser retirados do antigo baú de memórias.
              Esse é o lado mais sombrio dessa situação, o lado menos sombrio, mas ainda acho que possui um pouco de sombras é aquele em que a responsabilidade BOA também é merito de Deus e não das pessoas. Um aluno se dedica bastante, estuda bastante, passa no vestibular, em seguida ele se ergue, de peito cheio e diz "Graças a Deus, passei", isso é uma característica da nossa cultura, meritar a Deus não apenas as coisas ruins, como as boas também. Afinal, raramente você vê uma pessoa falar seriamente coisas como "Eu sou bom demais nisso" ou "Nisso eu sou foda, não conheço ninguém melhor", e quando acontece, as pessoas que disseram tais palavras são consideradas arrogantes, querendo se mostrar diante de outras, mesmo que tenham, de fato, aquelas habilidades ditas. Como eu disse, não sei se tais características do comportamento humano originaram a religião Cristã ou se a religião Cristâ acabou gerando essa cultura, porém tenho a certeza que ambas as coisas estão relacionadas. Porém não generalizo, apesar de que a maioria das pessoas que conheci realmente responsabilizavam Deus tanto pelas coisas boas como pelas ruins que faziam, conheci muitas que usavam a religião como um guia. Mas não como um guia para se aproximar de Deus e ser bem recebido na pós-vida, muito pelo contrário, a utilizavam e ainda utilizam como guia para uma vida harmonioso com os homens, com os animais e com a natureza em geral, acho que devia ser essa a meta central de todas as religiões e não uma aproximação com uma divindade abstrata.
           Fazer boas ações é mais importante que crenças, essa é minha opinião.
           Aqui um homem que se expressa bem melhor do que eu quanto a essa última frase
PS: Achei foda a resposta dele *-*

William Crawley entrevista Richard Dawkins - Legendado BR