14 de out. de 2010

O Brasil é Laico?

             Quando se faz essa pergunta, a maioria das pessoas que vivem no país dizem que sim, ou seja, a religião não influencia nas tomadas de decisões do governo.
            Mas essas eleições de 2010, servindo como um medidor de "laicismo" do Brasil, botaram em dúvida essa certeza. Afinal, a candidata à presidência da república, Dilma Roussef, praticamente perdeu o primeiro turno das eleições por uma questão religiosa: o aborto.
           No sentido religioso o aborto é um desrespeito à valorização da vida, mas não se pode esquecer o fato de que não são poucas as mortes de mulheres que recorrem à abortos clandestinos, nem de bebês abandonados em orfanatos ou até mesmo em lixos! A religião - não apenas nesse, como em vários outros casos -, não apenas definiu a opinião das pessoas - que não souberam separar um problema de saúde pública da religião - como definiu os resultados das eleições.
          Deixaram de perguntar a ela sobre seus planos e metas na saúde, na economia e na educação do país, para se discutir questões religiosas, que ganharam prioridade. Então, lhe pergunto, o Brasil é realmente um país laico?

2 de out. de 2010

Demônios-da-tasmânia

                Mais uma postagem sobre um assunto que todo mundo já fala, coisa banal mesmo, mas que ainda vejo direto por aí. Tem pessoas que falam que "Po, racismo é errado", mas cinco minutos depois já falam "Aquele cara fumou maconha, ele não presta", e depois enche o peito para dizer que não tem preconceitos e odeia quem tenha. É nessas horas que refletimos sobre como seres humanos podem ser idiotas, andamos até nossa casa, tocamos no notebook e começamos a escrever num editorzinho de texto muito furreca.
              Primeiramente, maconheiro não é sinônimo de bandido. Tanto que há intelectuais e pessoas muito influentes que são a favor da legalização da maconha ou já fizeram uso dela, como Gilberto Gil, ou ele é bandido agora? Não se pode afirmar nunca que alguém é isso ou aquilo se não a conhecer, se não conversar com ela, nem mesmo um homem preso por ser suspeito de assassinato deve ser considerado mal caráter, afinal, ninguém garante que ele matou mesmo alguém.
             Segundo, falar que não se tem preconceito é o mesmo que falar que você não tem um pulmão ou uma certa massa cinzenta na tua cabeça que você não usa, meu amigo. O preconceito é um sistema de alerta do corpo humano, assim como aquele que te faz sentir dor quando corta o dedo, é um alerta do tipo "tem algo errado, pare de fazer isso", não é? O preconceito é mais pra "Tem algo errado naquele cara, não se aproxime, DANGER! DANGER!", é um traço não só da mente humana, mas de qualquer animal - se você tem um cachorro que não curte gatos, saiba que ele é tão preconceituoso quanto você, caro leitor -, faz parte da psique humana avisando do perigo da aproximação de uma criatura desconhecida, que sua mente não conhece fraquesas, não conhece as qualidades, então têm medo, não sabe de que forma, caso ela queira, poderá te ferir ou te prejudicar, é fácil de entender como funciona. Como no caso do assassino, tudo bem que ninguém garante que ele é mesmo o assassino, mas caso seja, você corre um considerável risco de vida em conversar com ele, em cálculos fáceis diríamos assim: há metade de chance dele ser um assassino, uns 50% então, dessa metade que possui certeza que ele é assassino, há metade de chance dele querer te matar, o que é o maior perigo, fechando aí em 25% as chances dele querer te matar no total dos cálculos. Não é um número tãaaao grande assim, mas é suficientemente gigantesco para colocar medo na sua mente, é uma questão de lógica.
            Porém esse sistema de alerta chamado preconceito nem sempre as coisas batem com a realidade, como no caso dos assassinos, pois quando você não sabe nada daquele tipo de pessoa, você fica perdido. É como tentar analizar um texto SEM TEXTO! Por exemplo, você se dá bem com Tasmanianos? O máximo que a maioria poderia dizer seria dizer é: "Ótimo, demônios-da-tasmânia são supersimpáticos, assistia na SBT", porque é o máximo que conhecemos deles. Agora no outro lado da moeda, se perguntar pra um espanhol o que ele acha de brasileiros, "Ótimo, belas prostitutas", sentiu um pouco da tensão? Mas não bata em espanhóis, nem em tasmanianos, são gente fina, só um pouco diferentes.
           Então para fechar para fechar a postagem, vou citar um trecho de um livro que nunca existiu e nunca existirá de um autor chamado Fernando Lobo, que se conhecerem, não é esse aqui, pois ele nunca existiu. O livro se chama "5 dicas para não ser um FDP em sociedade", na página que me foge da memória que nunca existiu, capítulo I, preconceito:
"(...)
  1.Não o repasse à frente, o preconceito é seu, o alerta é de seu corpo, tentar passar essa idéia precipitada para outras pessoas só vai gerar exclusão social contra aquela pessoa que é alvo do seu preconceito
  2. Tente ter uma conversa (que não seja hostil) com a pessoa no mínimo dez minutos.
  3. Caso seja um pintinho escondido na casca do ovo, pule a 2 e venha direto para a 4.
  4. Pesquise a respeito daquela característica que te assusta ou incomoda na outra pessoa, é a forma mais discreta e efetiva de fazer isso. Não pesquise apenas contras, nem Prós, pesquise os dois, para ter conhecimento total de tudo, pois é falta de conhecimento sobre aquele tipo de pessoa que faz sua mente temê-la, e ter medo das coisas não faz sucesso com as mulheres (u.ú), então é só ganhar vergonha na cara e usar o Santo Google!
  5. Se você é vítima de discriminação, não use isso para se justificar quando cometer o mesmo erro que cometeram contra você."
         Como eu não não prometi nada, vou fechar mais uma vez a postagem.
         Muitos podem discordar de mim, mas em outros países a xenofobia, o racismo e outras formas de preconceito até podem ser compreendidos - ainda não deixam de estar errados - por conta que nesses países há uma cultura uniforme, única, que sempre foi daquele jeito e talvez nunca vá mudar, é como um ser humano pousar numa cidade marciana. Mas quanto ao Brasil, é incabível, pois é um país mestiço de natureza. Não temos uma cultura única, muito pelo contrário - ainda bem -, temos inúmeras culturas diferentes que devem ser valorizadas e, nessa mistura, não adianta e nem faz sentido alguém discriminar outra, é querer viver no passado.

20 de set. de 2010

Memórias de todo o sempre

            O ano se vai, o último entre nós, não a escola e eu, já que o painel de notas e seus graciosos Is parecem que me amar tanto que não querem me deixar ir embora, mas entre eu e as pessoas que, durante esses últimos três anos, fizeram e farão sempre parte de mim, do que fui numa época que crescemos tão rápido, não em corpo - há alguns entre nós que lutam e não crescem - mas em alma. Há quem diga que esqueceremos uns aos outros, que um dia passaremos nas ruas e nos ignoraremos, passando reto sem dizer olá, porque esquecemos, porque nos deixamos esquecer, como se fôssemos capazes de abandonar uma parte de nós, mas não é. Não somos capazes.
            Como esquecer o sorriso nada discreto, porém não menos encantador de uma certa garota de olhos claros, esperta, linda e romantica, não por querer ser, mas por simplesmente ser, teria sido assim a Afrodite dos gregos? Difícil seria esquecer do vício em doces de uma garota geniosa, insistente em não crescer, porém já crescendo tão rápido quanto os demais crescem numa alma que será assim, nem criança, nem mulher, eternamente uma moça geniosa, de idéia tão formosa. E então que posso falar das memórias do amigo de visão aguçada, que viu o gato se transformar em coruja - Ou seria o contrário? Bem, o gato é dele, a coruja é dele, só me limito a ser dono do riso ao ouvir a história, toda vez.
           Como esquecer a promissora jovem, que se mostra uma bela muralha, mas ao cair de uma pequena e sensível pedrinha - que eu queria nunca ter visto cair a ainda não quero - se torna, em prantos, tão humana quanto qualquer um que vi e, quando se deixa ser visitada pela paz, pela alegria, pela amizade, ganha em seu topo uma flor, de pétalas tão coloridas quanto ela supõe. Quem me dera só poder fingir que uma dia me esquecerei do amigo roqueiro que, entre a força que vem da música, que vem da coragem, que vem da vida e que vem da amizade, se torna imbatível, mas nem por isso menos atento, sempre olhando cada um dos olhos ao seu redor, se preocupando com as pequenas rachaduras nas almas dentro de seus amigos, e curando-as com sua companhia. E então as mais novas promessas, loucas promessas, loucos garotos, um trio de malucos realmente, que ensina na sede e na fome para um barbudo que se acha adulto, que não nada vale beber seu refrigerante favorito na completa solidão, se comparada a beber coca-cola entre piadas, risos e conversas espontâneas.
          Então digo a todos que estão nas minhas memórias, posso esquecer seus nomes - pois não sou o melhor nisso - e até mesmo qual seu prato favorito, mas nunca, garanto eu, nunca poderei esquecer quem foram e as lembranças que me deram, não grandes lembranças, mas boas lembranças, as de que preciso, as que aprecio.

14 de set. de 2010

Idéias absolutistas (não é post de história >.<)

           Absolutismo vem de absoluto, aquilo que é inquestionável, constante e imutável, ao menos na mente das pessoas que o pensam. É estranho ouvir essa palavra nos dias de hoje, pois parece coisa do passado, coisa de reis da idade média que, absolutistas, exerciam poder absoluto até mesmo sobre as crenças das pessoas - por exemplo, na Europa, durante certo tempo, decidiram que quem não fosse católico ia pra fogueira -, pois assim mantinham seu poder. Mas e nos dias de hoje? O Brasil não é mais monarquia, gozamos de liberdade cultural e religiosa, somos o que quisemos quando queremos. Então porque falar de absolutismo? Por acaso este autor já está querendo fazer uma postagem inteira sobre história só pra ter o que postar nessa semana?
            Na verdade não, o absolutismo, por mais estranho que possa ser dizer, ainda existe enraizado na personalidade da maioria dos brasileiros, é só dar uma olhadela melhor. Para ilustrar melhor isso, conto uma história, acontecida esses dias. Conversava com uma amiga, frustrada de como a vida seguia um curso estranho, como tinha saudades de sua infância onde se divertia, brincava e via a vida de uma forma simples, assim como seus amigos. Hoje, seus amigos não vêem mais a vida assim, estão cercados de responsabilidades com namoros, estudos e trabalhos, pra eles brincadeiras são coisas de criança, não pra adolescentes. Ela me dizia isso, enquanto ia e vinha num brinquedo de criança, um balanço, foi quando
apareceram crianças, do outro lado, gritando e resmungando sobre a presença dela alí, diziam que ela era grande demais pra estar alí com brincadeiras e zombarias. Percebem? Já não bastava os antigos amigos dela, hoje adolescentes quase na fase adulta, dizerem que brincadeiras assim eram apenas para crianças, surgiam crianças dizendo que essas brincadeiras eram só para crianças! Crianças já dizendo que o que é de adulto e o que não é, depois reclamam porque aparece uma menina de doze anos dando por aí - foi mal o linguajar, moças (=X) -, sem nem mesmo perceber que é culpa de uma sociedade que trata coisas assim como essenciais para adultos que, como todos sabem, é o desejo de toda criança: ser adulto. Se elas não conseguem isso crescendo naturalmente - porque demora - vão tentar fazer isso imitando os comportamentos dos pais, tios ou o primeiro adulto que aparecer no comercial da TV.
            Muitos vão achar que é um absurdo o que falo, como se fossem adultas o tempo inteiro e nunca tivessem vontades infantis, nunca tivessem o desejo de uma hora jogar tudo pro alto e aproveitar o dia como podem, mas não o fazem, porque? Porque já estão mergulhados no engodo que são as responsabilidades da vida. Sim, engodo, porque se acham que é o dinheiro que ganham agora, o trabalho que têm agora, as faculdades que estudam agora, as namoradas que tem agora, que vão ditar toda a sua vida, está iludido.
             Elas apenas representam parte de uma totalidade, representam apenas o momento que têm agora, porque NADA no mundo é constante, tudo é inconstante. Ou seja, o trabalho que ama agora pode não amar amanhã, então porque dedicar completamente sua vida a isso e esquecer as pequenas diversões da vida, a inocência, a simplicidade?
            Mas deixar de brincadeiras e começar a se dedicar apenas às responsabilidades é coisa de adulto, né? Não. Isso é uma idéia absolutista, dizer que há coisas de criança e coisas de adulto (ou vão me dizer que se eu comer Danoninho vou estar fazendo "coisas de criança"?), sendo essa mesma idéia absoluta que atrasa setores culturais no Brasil como quadrinhos, animações e desenvolvimento de jogos para videogame (ou celular), pois são setores vistos como infantis, que buscam apenas crianças. É uma idéia absolutista, hoje se vê que o consumo de quadrinhos é muito frequente em adultos - que um dia já foram crianças que as
adoravam talvez menos que hoje - assim como o gosto por um bom filme ou seriado de animação e o prazer em se jogar um PS2, mas no Brasil essas áreas são tímidas, uma questão cultural que demora pra ser modificada.
            Uma outra idéia absolutista - que se observa mais entre os mais velhos - é uma herança bem de lá atrás, na idade média, onde os reis diziam que quem nascia rico, morria rico, era a vontade de Deus! Hoje em dia vejo muita, mas MUITA gente falando que quem é pobre nunca vai ter dinheiro pra comprar um Porsche, porque NUNCA vai ser rico. Porra, o quê que eu falo pra um nego desses? Vai estudar e trabalhar, que tú descobre que dá sim pra ser rico, pare de achar que coisas caem do céu e trilhe seu próprio caminho, abandone patrões idiotas, não fique em empregos só pra ter segurança, sempre pense alto, ambicione, que tú consegue.
            É dificil, fato, mas nada é impossível, afirmar que coisas NUNCA devem ser feitas ou NUNCA devem acontecer são, na maioria dos casos, idéias absolutistas. Mas nem sempre, você ainda NUNCA deve matar uma pessoa, é uma idéia absolutista boa, mas essa não pega, pelo menos não no Brasil.
            Eu poderia fazer inúmeras outras citações de idéias absolutas na cultura brasileira, porém não é a idéia dessa postagem, e sim que são coisas que existem sim, que devem ser combatidas, e não devem ser ignoradas, porque servem como um atraso de vida.

13 de set. de 2010

Dica de audiobook

          Olha, tem pessoa que nem adianta dizer que a história de um livro é incrivelmente boa e o autor sabe escrever de uma forma intrigante ou interessante seu livro pra convencer alguém a lê-lo, as vezes nem mesmo falar que o livro é de graça faz a pessoa se interessar por ele, é o tipico anti-leitura, comum no Brasil. Mas quero ver o que falam contra os Audio Books! Se agora alguém tinha preguiça de ler, muitos livros estão surgindo com audio, narrados até por pessoas famosas por aí.
         Um exemplo é o Quando Nietzsche Chorou – cujo autor do livro é Irvin Yalom - narrado pelo José Wilker. Vou deixar o link aqui do audiobook, baixem e aproveitem. Aqui uma breve resenha antes:

Sinopse:
         Uma trama envolvente, que mescla fato e ficção num drama de amor, fé e vontade na Viena do século XIX. Os personagens são Nietzsche, o maior filósofo da Europa; Breuer, um dos pais da Psicanálise; e um jovem médico, chamado Sigmund Freud. Um romance inesquecível, narrado por José Wilker, que conta a terapia imaginária que teria acontecido entre um extraordinário paciente e um terapeuta talentoso. Plugue-se nesse drama!
         Sobre o Autor: Irvin D. Yalom é psicoterapeuta e professor de psiquiatria na Escola de Medicina de Stanford. Levou a psiquiatria ao sucesso no âmbito literário ao abordá-la em vários de seus livros, entrelaçando realidade e ficção.
       
          Narrador por: José Wilker

           Ator, diretor, autor e crítico de cinema, José Wilker fez surgir seu talento no teatro de vanguarda nos anos 1970 e obteve projeção internacional com novelas como Salvador da Pátria e Roque Santeiro, e filmes em Dona Flor e seus 2 maridos e Bye, bye Brasil.

          No site da loja Extra, você encontra o audiobook por um preço razoavelmente baixo, pra quem tiver interesse, o link do produto está aqui.

Sustentabilidade Vs Consumismo?

          Eu assisti no último domingo - aliás, ontem - o debate entre os principais candidatos à presidência do Brasil, e entre farpas de faíscas que alguns candidatos trocavam tirando um horário de debate de soluções e propaganda de seus planos para o país para colocar uma troca de tentativas de desmoralizações, surgiu uma questão que me chamou a atenção. A jornalista da Rede Tv no bloco onde os jornalistas faziam perguntas aos candidatos, questionou - para candidata Marina, do PV - se a proposta dela de sustentabilidade não freiaria da felicidade do povo brasileiro, que começava agora a ter direito pra comprar, pra consumir. De acordo com ela, seus planos fariam as pessoas consumirem menos e com menor qualidade em nome da proteção da natureza.
          Eu achei muito estúpida a pergunta da jornalista, aliás, bem idiota mesmo. Como a própria Marina disse, era uma noção antiquada que ainda se tem no Brasil onde consumir com qualidade significa se opor a Sustentabilidade. Realmente no Brasil ainda falta consciência ambiental, não sou expert no assunto, mas mais inteirado no assunto que a jornalista da pergunta eu estou. Pra quem não está, vai algumas curiosidades:

30 de ago. de 2010

José


E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, Você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio, - e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você consasse,
se você morresse....
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja do galope,
você marcha, José!
José, para onde?

Respecto!

      
          Não gosto muito de falar sobre religião, pois sendo ateu sou uma agulha num palheiro, invisível no meio de todos, porém cutuca o suficiente pra todos fazerem careta, mesmo assim o post hoje é uma justificativa sobre minha forma de ver a coisa toda,
           Me pergunto qual é a imagem que os religiosos têm dos ateus. Analisando pelo que vi por aí e pelo princípio de que todos acreditam completamente em Deus e não fazem o mínimo exercício da dúvida quanto a isso, acho que ou pensam que os Ateus são mentes confusas, perturbadas, ou pessoas impertinentes que dizem que não acreditam apenas para não seguir os valores cristãos - a maior religião ocidental - e gozarem de uma liberdade forçada, sem ter que ter peso na consciência da punição de alguma divindade. Afinal, cristãos acham um absurdo não se acreditar em Deus, acreditam que nunca teriam o mesmo pensamento ou sentimento que um ateu, mas se eu perguntar a qualquer cristão o que ele acharia se eu dissesse que na verdade Satã é o grande senhor e esse que todos adoram é um pilantra enganando a todos, sentiriam o mesmo sentimento de ver o absurdo - e diriam que eu iria pro inferno por ter dito isso também, provavelmente.
           É essa visão da existência de Deus que é absurda para os Ateus - assim como de qualquer deus para uma religião que não cultua esse deus -. Ao menos, para mim, o fato de que existe alguma criatura nesse mundo que coordena tudo, controla o nosso destino e como vivemos é o mais absurdo. Então pode pular alguém da cadeira enquanto lê isso gritando: "Mas ele sempre dá o livre-arbítrio!". Olha, seguindo apartir da crença de que um Deus existe, se ele alguma vez deu livre-arbítrio à humanidade, jogaram no lixo e imploraram para que acabasse, porque a maioria dos religiosos que eu vejo rezam apenas para pedir coisas, e aumentam suas frequências à igrejas conforme passam por dificuldades na vida - apesar de ser ateu, ainda respeito aqueles que rezam e vão a igreja simplesmente pelo sentimento de proximidade com seu deus, para saciar a necessidade espiritual de forma pura, sem interesses - ou pra ficarem de consciência limpa, sendo concenso geral entre os religiosos que milagres acontecem. Se milagres acontecem, são a prova da interferência de Deus, se provam que ele interfere para o bem, também prova que ele interfere por outras razões, afinal, Deus não deve ser Hippie, ele não é só "Paz e amor". Se ele interfere, porém, isso contesta a teoria do livre arbítrio dentro da própria religião, a noção de livre arbítrio é apenas uma ilusão, porque toda a religião tem uma espécie de "Manual de regras" com dez ou onze receitas básicas para Deus não te punir, mas lembrando que você tem livre arbítrio, o que no final acaba com o livre arbítrio de qualquer ser humano.
         Isso é um paradoxo do qual me afasto, não porque recuso valores morais e éticos, na realidade eu nasci em berço católico e tenho muitos princípios ligados a essa religião - com excessão é claro do amor e medo do grande senhor e aquele blábláblá - ao passo que vejo inúmeras pessoas religiosas que não seguem nenhum, nem mesmo aqueles de sua crença, olhem o exemplo do pastor que andou matando gente por aí. É claro que o caso do pastor é mais radical, mais isolado. Mas e quanto as pessoas que roubam, que mentem, que manipulam e prejudicam outras pessoas para se beneficiarem? Tenho certeza que a maioria dos deputados e senadores de nosso país não são ateus, e então?
           Escrevi vi isso, porque me disseram outro dia que o Brasil de hoje está do jeito que está por falta de religião. NÂO È FALTA de religião, é falta de valores. E um valor importante é respeitar e aceitar as diferenças das outras pessoas com o qual se convive, como por exemplo, o ateísmo. Acredito que o mundo perfeito não vai ser aquele em que ninguém acreditará em Deus, mas um dia em que não haverá religiões, onde cada um terá sua crença e seguirá seus valores para ser uma pessoa melhor na sua vida terrena e não pra ir pro céu.

19 de jul. de 2010

Deus com as costas pesadas

           Sempre que ouço falar sobre a criação das primeiras religiões no mundo, surgem falas sobre a tentativa de explicar fenômenos da natureza através de seres abstratos, os deuses. Mas me pergunto se a criação das religiões não está enraizada muito mais profundamente na mente humana, num solo que é fertil desde a época das primeiras religiões até os tempos modernos: a negação da responsabilidade.
           Posso estar enganado, talvez a negação da responsabilidade que vemos na sociedade de hoje em dia talvez esteja relacionada com toda uma cultura secular cristã, mas posso estar certo e a cultura secular cristã ter sido fruto dessa negação de responsabilidade. Para entender melhor o que seria essa "negação de responsabilidade" que na verdade é um conceito simples, vou começa pelo lado sombrio disso, quando as pessoas se vêm em uma situação complicada, hoje por um pequeno erro colocam todos os planos feitos durante semanas a perder, ou perdem entes queridos para a roda do destino, para a morte imutável. Um dos primeiros sentimentos que toma um ser humano ao sofrer grandes perdas é a raiva, estão enfurecidos por terem se dado mal, "alguém tem que ter a culpa!", não pensam com essas palavras, mas é o modelo do pensamento que passa. Talvez primeiramente culpam as pessoas próximas, que poderiam ter avisado que algo errado iria acontecer, que poderiam ter aconselhado para que não acontecesse (estou falando de forma genérica) ou pudessem ter tido - na visão daquele que nega sua responsabilidade na situação - um poder direto de ter impedido que a tal coisa ruim acontecesse. Junto a esse primeiro sentimento de raiva, vem então o grande Deus, ele controla o destino de todos, desde o topo dos céus até o chão que nós pisamos, logo ele nos controla também, não é? As idéias de livre arbítrio desaparecem totalmente da mente de uma pessoa irritada com Deus, Deus é culpado pelas desgraças em sua vida, para elas isso é fato, estão negando a própria responsabilidade na situação, fingem que não tem culpa no que aconteceu de errado...com elas mesmas! No íntimo sabem que são culpadas, mas a religião lhes ajuda a criar uma espécie de amortecedor, para que a culpa não perfure tanto seu coração. Porém ainda há a segunda fase, o segundo sentimento que passa pela mente de um ser humano após as coisas darem errado, primeiramente foi a raiva, agora a raiva se torna tristeza, o coração enfurecido agora se concentra nos olhos lacrimosos. Na tristeza, aqueles que antes lançaram sua raiva contra Deus vão se desviar ainda mais do caminho correto que deveriam seguir para observar a própria culpa e descobrir onde acertar, dessa vez vão perguntar para sí mesmas: "O que eu fiz para Deus para ele me punir assim?", a pessoa irá pensar em situações totalmente diferentes daquela em que cometeu o erro, talvez acabe se concentrando em outros erros antigos que nem mesmo deviam ser retirados do antigo baú de memórias.
              Esse é o lado mais sombrio dessa situação, o lado menos sombrio, mas ainda acho que possui um pouco de sombras é aquele em que a responsabilidade BOA também é merito de Deus e não das pessoas. Um aluno se dedica bastante, estuda bastante, passa no vestibular, em seguida ele se ergue, de peito cheio e diz "Graças a Deus, passei", isso é uma característica da nossa cultura, meritar a Deus não apenas as coisas ruins, como as boas também. Afinal, raramente você vê uma pessoa falar seriamente coisas como "Eu sou bom demais nisso" ou "Nisso eu sou foda, não conheço ninguém melhor", e quando acontece, as pessoas que disseram tais palavras são consideradas arrogantes, querendo se mostrar diante de outras, mesmo que tenham, de fato, aquelas habilidades ditas. Como eu disse, não sei se tais características do comportamento humano originaram a religião Cristã ou se a religião Cristâ acabou gerando essa cultura, porém tenho a certeza que ambas as coisas estão relacionadas. Porém não generalizo, apesar de que a maioria das pessoas que conheci realmente responsabilizavam Deus tanto pelas coisas boas como pelas ruins que faziam, conheci muitas que usavam a religião como um guia. Mas não como um guia para se aproximar de Deus e ser bem recebido na pós-vida, muito pelo contrário, a utilizavam e ainda utilizam como guia para uma vida harmonioso com os homens, com os animais e com a natureza em geral, acho que devia ser essa a meta central de todas as religiões e não uma aproximação com uma divindade abstrata.
           Fazer boas ações é mais importante que crenças, essa é minha opinião.
           Aqui um homem que se expressa bem melhor do que eu quanto a essa última frase
PS: Achei foda a resposta dele *-*

William Crawley entrevista Richard Dawkins - Legendado BR