1 de mai. de 2012

Lobo exausto


O homem acorda. Pensa na infelicidade de ter acordado quando o sono tem sido uma cura. Se levanta e, como um boneco de corda, segue suas rotinas. Seu banho, seu café, sua busca pelos contatos antigos. É na realidade uma busca pelo seu eu antigo, que não consegue encontrar.

Alguém levou seu eu antigo e não quis devolver. O resultado é vazio. Não tem nem que ama e nem o próprio amor. Sua cabeça está baixa, olhando pro chão ou pro distante, mas na verdade está olhando só pra si mesmo, com o mesmo olhar distante. Não sente seu corpo estar na mesma frequência da sua alma.

Minutos depois já tem a bebida no copo e o cigarro a vista. E pensa nesse destino triste dos que lutam sem luta alguma. Deixa pra depois a bebida e o cigarro, como em todos os dias e o depois nunca chega. Já aprendeu que quando mais precisa das coisas é quando menos deve procurá-las. Mas ainda dói sofrer assim. Uma linha prateada corre pelos olhos, acompanhando um incontrolável desejo de fazer caretas e choramingar. É patético. Se acha patético.

Então ele escuta o som da chuva. Gotas caindo insistentemente do céu sobre o jardim, para onde ele vai. Sente o peso da camiseta aumentar. Então percebe o fato de que quando se está na chuva, é difícil distinguir o que são verdadeiras lágrimas e o que é chuva. Só se sente frio. Não sente dor, não sente raiva, não sente nada. Só frio. E a água vai lavando sua alma pouco a pouco, para que seja suja novamente pela mente que não esquece o passado maculado. E eis que o homem permanece assim. O que é uma lágrima diante de tantas? A chuva fica pior. E piora. A camiseta e a calça estão pesadas. A alma já está leve.

Quando retorna à vida humana após um banho quente, relembra sua insignificância. Errou tanto. Foi punido tanto. Para cada pessoa que esnobou ou não deu atenção em vida, viu-se sofrendo cada dia por ter sido abandonado quando mais precisou de alguém. Quando mais se precisa das coisas, é quando menos se deve procurá-las. Pois se procura, não vai encontrar. Só que esse meio caminho só lhe trarão fantasmas piores para lidar no futuro.

                                    Dedico este texto não a alguém, mas a solidão, que é a constante de todos os fins.